Com o estabelecimento do Reino de Deus
no advento terreno de Cristo, o gênero foi redimido de seu estado de condenação
e morte, bastando cada ser humano reconhecer este fato profético para participar
desta Redenção. Porém, a partir do novo nascimento (João 3:3) a natureza humana, agora recriada, passa por estágios até
sua restauração plena “até que cheguemos
à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida
da estatura completa de Cristo.” (Efésios
4:13). Mesmo sendo um milagre, este milagre ainda se processa no homem
gradualmente.
MORTIFICANDO A NATUREZA
ADÂMICA
De fato, duas naturezas coexistem no
homem nascido de novo, recriado à imagem e semelhança de Deus. Esta natureza
adâmica é a própria natureza de Adão pós-Queda, caracterizada por uma corrupção
generalizada, de corpo, mente e coração. Esta natureza é um “cadáver” que
devemos carregar até o dia em deixemos este corpo mortal, “por isso, também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação,
que é do céu” (II Coríntios 5:2).
Note que esta habitação é o corpo glorificado que havemos de receber, que,
hoje, está realmente no céu, porém descerá à nós, pois não seremos despidos num
“rapto secreto”, mas revestidos pela Vinda gloriosa da Vida que está escondida
com Cristo em Deus (Colossenses 3:3-4).
Enquanto se aproxima esta gloriosa metamorfose, devemos numa atitude contínua e
perseverante, mortificar esta velha e caída natureza (Colossenses 3:5). Essa coexistência do novo e do velho homem é
expressa no clamor agoniado de Paulo: “Miserável
homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24). Este clamor aponta para
a tradição da lei romana, que punia homicidas fazendo-os carregar o cadáver de
sua vítima amarrado ao seu corpo pelo resto da vida. O corpo se decompunha,
fedia, e estava sempre junto a assassino, mas o assassino se gloriava de estar
vivo. Paulo complementa declarando a natureza do conflito existencial humano ao
dizer: “Dou graças a Deus por Jesus
Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de
Deus, mas, com a carne, a lei do pecado.” (Romanos 7:25). Paulo ratifica a esperança do homem recriado
dizendo: “Portanto, agora, nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne,
mas segundo o espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me
livrou da lei do pecado e da morte.” (Romanos
8:1-2). Mas precisamos fazer morre sempre os hábitos da velha natureza.
SUJEITANDO-SE À
OPERAÇÃO DA CRUZ
A simbologia da cruz na linguagem
profética do Reino aponta para duas obras coexistentes: uma Obra consumada, e
uma obra progressiva. A mensagem da cruz fala do Rei e Senhor do Universo que
se ofereceu em sacrifício para Redimir o gênero humano à sua condição de filhos
do Reino. Fala do Rei que ao pagar a dívida da humanidade deixou claro que sua
parte nesta Obra Redentora estava feita (João
19:30). É uma mensagem que vai além do intelectualismo e racionalismo
humano (I Coríntios 1:17-18). O
homem recriado e restaurado à imagem do Criador, não poderá mortificar a velha
natureza adâmica, senão pelo sujeitar-se à operação da cruz. A obra da cruz foi
consumada, a cruz não, pois, “já estou
crucificado com Cristo, e vivo, não
mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé
do filho de Deus...” (Gálatas 2:20).
Note que Paulo não fala da cruz como uma experiência da sua conversão, mas como
uma operação contínua em sua existência. Nesta linguagem profética, sabemos que
não somente nós estamos crucificados para o mundo, mas também, todo o ideal do
sistema (mundo) também está crucificado para nós, e este o único motivo que
temos para nos gloriar (Gálatas 6:14).
A obra definitiva da cruz em nós é a anulação do corpo do pecado, para que não
mais o sirvamos (Romanos 6:6; Gálatas
5:24), e a obra gradual da cruz é o convite do Rei Jesus ao discipulado,
que é dia após dia renunciando, tomando-a e seguindo ao Senhor como constantes
alunos e embaixadores: “...Se alguém
quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a cada dia a sua cruz, e
siga-me.” (Lucas 9:23). A cruz
não é uma árvore de natal onde estão os presentes da cristandade, mas é o altar
onde prestamos onde oferecemos nossa vida em sacrifício vivo a Deus como culto
racional (Romanos 12:1-2).
MINIMIZANDO A OPERAÇÃO
DA ALMA
Entenda-se a Alma como a sede dos
sentimentos, emoções, intelecto e vontade. Diferente do homem recriado à imagem
do Último Adão, a alma era a essência imaterial da vida do primeiro Adão (Gênesis 2:7; I Coríntios 15:45).
Considerando que a alma é, também, o canal de interação do homem com o mundo ao
seu redor, captando informações e impressões deste mundo por meio dos sentidos
do corpo, a mesma tende a ser inconstante em seu estado. Não podemos, porém,
anular a alma nesta existência física, mas podemos “reconfigurá-la” e minimizar
sua operação, não sendo predominantemente guiados por nossos sentimentos,
emoções, intelecto e desejos. A alma do homem deve atuar em harmonia com o espírito
recriado, para que o corpo opere em harmonia com a vontade de Deus. Assim, a
maneira de reconfigurar a alma é através de uma absorção correta, selecionando
os pensamentos (Filipenses 4:8;
Colossenses 3:2), Selecionando os desejos (II Timóteo 2:22), selecionando os sentimentos (Filipenses 2:5), e selecionando as emoções (Mateus 5:44; Efésios 4:31-32). Para tanto, precisamos policiar os
canais de nossa absorção: os olhos (Salmos
101:3; Jó 31:1), os ouvidos (Apocalipse
13:9) e a boca (Efésios 4:29; Tiago 4:11).
Sim, o homem pode transgredir através olhos concupiscentes, ouvidos coniventes,
e boca maledicente. Lembremo-nos que “...a
alma que pecar, essa morrerá.” (Ezequiel
18:4b).
LIBERANDO O ESPÍRITO
RECRIADO
Tendo nascido de novo, da água e do
Espírito (João 3:3-5) se tornando
uma nova criatura (II Coríntios 5:17;
Gálatas 6:15), este homem recriado não é um corpo novo, como imaginou
Nicodemus (João 3:4a), tão pouco uma
nova alma; Segundo a profecia de Ezequiel é um novo espírito (Ezequiel 36:26). Não podemos estar
confusos quanto a isto. Este espírito não o Espírito Santo de Deus, mas é o
novo espírito concebido ao homem por obra do Espírito Santo, por ocasião de sua
união com Cristo Jesus, pois, “...o que
se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito” (I Coríntios 6:17). Este espírito recriado é justamente a reprodução
da Pessoa e do caráter de Jesus no homem nascido de novo. Este espírito muitas
vezes não opera em seu potencial e plenitude, pois damos mais vazão à operação
da alma, e deixamos este poderoso espírito recriado, retido em nossa
existência. Dentre outras coisas, para liberar este espírito recriado,
precisamos: (1) Alimentá-lo com a Palavra de Deus (Salmo 119:11); Inclinando-nos para as coisas do Espírito de Deus (Romanos 8:5-9); Comunicando-nos com
Deus por meio deste novo espírito (I
Coríntios 14:2, 14); Frutificando este novo espírito pelo Espírito de Deus
(Gálatas 5:22).
Conclusão
A Redenção efetuada por Cristo Jesus
foi, de fato, completa, mas seus efeitos transcendem o tempo para o futuro e a
consumação de todas as coisas. Assim, sabemos que esperamos o culminar desta
Redenção (Romanos 8:23), pois temos
o penhor divino desta promessa, o Espírito Santo (II Coríntios 1:22; 5:5; Efésios 1:13-14). Desde que o Rei Jesus
veio a Terra e estabeleceu o Reino de Deus, dando início ao período libertador
chamado “milênio”, até aos nossos dias, tem havido um processo de expansão
deste Reino que terá seu clímax antes da Segunda Vinda do Senhor, quando o
conhecimento da glória do Senhor encherá toda a Terra como as águas cobrem o
mar (Habacuque 2:14), e todos os
povos adorarão ao Senhor (Salmo 22:27-31),
e como se não bastasse, a natureza, o ecossistema, a fauna, a flora, serão
revigorados pela Redenção da Terra (II
Crônicas 7:14), de tal modo que cessará a mortalidade infantil, e aumentará
a expectativa de vida do homem (Isaías
65:20). Precisamos entender estes estágios da restauração do homem como
indivíduo e como espécie. Cristo em nós, esperança da glória (Colossenses 1:27).
Enéas Ribeiro
"Ora vem Senhor JESUS!"
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