Ser pai é certamente uma das
maiores dádivas que o Supremo Pai celestial concedeu aos seus filhos homens
aqui na terra, e eu bem posso dizê-lo, mas, além da alegria e do privilégio o
próprio nome pai, conota uma extrema responsabilidade. Não obstante, outro tipo
de paternidade se faz ainda mais importante do que a paternidade biológica, a
paternidade espiritual, aliás, esta paternidade corresponde a uma verdadeira
lei espiritual irrevogável.
Pelo menos três características
revelam uma verdadeira paternidade: (1) Amor;
(2) Autoridade; e (3) Legado. Se algum pai, seja biológico,
ou espiritual negligenciar qualquer destes três princípios, ele certamente tem
fracassado em sua missão de ser pai.
Em primeiro lugar, o “ministério”
de pai deve estar alicerçado em amor, pois o amor é a essência de todo
relacionamento feliz, especialmente no que tange a pais e filhos. Sabemos
perfeitamente que a suma designação da pessoa de Deus na dispensação da graça, é
a de PAI, pois, através da fé em Jesus Cristo recebemos a adoção de filhos
(João 1:12; Gálatas 4:5; Efésios 1:5), e ratificando nossa nova e honrosa
condição de filhos, existe outro Poderoso Agente que nos introduz diante do
trono de Deus como filhos e não nos permite esquecer nossa filiação, o
Maravilhoso Espírito Santo (Romanos 8:14-16; Gálatas 4:6). Todo este cuidado em
garantir nossa inclusão na família de Deus (Efésios 2:19), arquitetando este
maravilhoso plano antes da fundação do mundo, revela o inexplicável amor de
Deus por nós. A verdade primordial é que Deus não tem amor, pois assim, o amor
seria mais um atributo de seu caráter, Ele é Amor (1ª João 4:8), ou seja, o
amor não faz parte de Sua natureza, o amor é a Sua natureza. Um pai, portanto,
é mais do que um genitor biológico, é uma fonte de amor onde o filho deve poder
recorrer em qualquer tempo. Um pai que não ama não é um pai, e o verdadeiro
amor deve ser externado com o sublime e liberal ato de dar o seu melhor por
seus filhos. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna.” (João 3:16).
Outro aspecto imprescindível no
caráter de um verdadeiro pai, é sua autoridade, sem a qual não existe um
referencial de ordem e hierarquia. Na verdade, a autoridade de um pai sobre seu
filho, revela seu amor por ele. Deus não exerce autoridade sobre seus filhos
simplesmente para se ostentar como um déspota tirano que se gaba de seu poder
de influência (aliás, este tem sido o comportamento medíocre de alguns
pseudo-pastores). Dois aspectos revelam que a autoridade de Deus é manifestada
através de seu amor: (1) O amor de Deus não mima. Muitos pais
concedem certa “liberdade” aos seus filhos, e chamam esta liberdade de longanimidade;
é claro que tal qual o caráter divino, devemos, como pais, procurar ser
longânimos, mas que esta não se torne em conivência passiva e irresponsável.
Nosso Pai celestial não é assim. Paulo exorta-nos a considerar tanto a bondade
quanto a severidade de Deus (Romanos 11:22). Creio que poucas Escrituras
bíblicas revelam a autoridade paterna de Deus como o que o texto a seguir:
“E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos:
Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele,
fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que
recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque
que filho há a quem o pai não corrija?”
Hebreus 12:5-7
Sim, o amor de Deus não mima; mas
existe outra característica marcante da autoridade de Deus revelada em seu
amor, (2) O amor de Deus exige reciprocidade. Na verdade, Deus não está
clamando por nosso amor como um pedinte que esmola por atenção, mas a própria
essência do amor divino pede, com autoridade escriturística a resposta desse
amor. “Amarás, pois, o Senhor, nosso Deus, de todo o teu coração, e de toda a
tua alma, e de todo o teu poder.” (Deuteronômio 6:5) Na verdade este “pedido”
de amor, é um clamor de nosso senso latente de responsabilidade, pois, o amor
de Deus é extremamente constrangedor (2ª Coríntios 5:14). Em fim, a autoridade
de Deus é um dos atributos que o qualificam como o Pai Supremo dos espíritos
dos homens (Hebreus 12:9).
Por fim, outro fator que revela a
natureza de um verdadeiro pai, é o seu legado, ou seja, aquilo que ele pode
transmitir aos seus filhos, que possa se perpetuar de geração em geração
promovendo bênçãos e uma história ilibada na família. O legado, longe de ser
bens materiais, é a herança cultural, moral e espiritual que um pai ‘ministra’
ao seu filho com fim de fazê-lo próspero em sua geração e nas futuras. Todo bom
pai se preocupa não somente em “dar coisas” para seu filho, mas
prioritariamente em ensinar coisas a ele; ensinar os melhores aspectos de sua
cultura familiar, ensinar seus mais nobres atributos morais e acima de tudo
ensinar um princípio espiritual seguro e sólido, que reja todas as demais áreas
de sua vida (Mateus 6:33; 7:24-29). Um pai que não repassou um bom legado
fracassou como pai (mas ainda é tempo de recomeçar). “E estas palavras que hoje
te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e
levantando-te...” (Deuteronômio 6:6-7).
Procurei apresentar alguns
princípios que norteiam a paternidade para, agora, começar a falar sobre a lei
da paternidade espiritual. Sim, entendemos que o nosso Deus é o Pai por
excelência, e que nosso pai biológico tem um papel crucial e honroso em nossas
vidas (Êxodo 20:12; Deuteronômio 5:16; Efésios 6:1-3), quero, porém, me referir
agora ao pai espiritual.
O início de nossa caminhada com
Deus é marcada por relacionamentos e por ensinos que passam a nos acompanhar
durante toda a nossa peregrinação aqui na terra. Em meio a estes
relacionamentos e palavras que absorvemos normalmente se destaca alguém que,
com sua sabedoria e amor, nos acolhe como um mentor e pai; esta pessoa pode
também surgir em momentos cruciais de nosso ministério (não necessariamente no
início) para nos servir como fonte de inspiração, consulta e repreensão, sempre
contribuindo para nosso crescimento e aprimoramento. Poucos relacionamentos na
bíblia expressaram tão bem este princípio como o de Elias e Eliseu.
“Sucedeu, pois, que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me
o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te
que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim. E disse: Coisa dura pediste.
Se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará; porém, senão, não se
fará. E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com
cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. O
que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus
cavaleiros!...”
2º Reis 2:9-12
A admiração de Eliseu por seu
mentor Elias era excepcional, após ter sido comissionado e convocado por Deus
através de Elias, Eliseu jamais o deixou e passou a andar ao seu lado
absorvendo sua sabedoria e sua fé. Houve momentos em que Elais até mesmo
desejou ir adiante sozinho, mas Eliseu se recusava a deixá-lo (2º Reis 2:2-8).
E foi exatamente essa persistência e perseverança de Eliseu em servir que legou
a ele o direito de pedir ao profeta Elias qualquer coisa que desejasse.
“...Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja
tomado de ti...” (2:9a). Observe diligentemente que se abriu diante de Eliseu a
oportunidade de sua vida, e sua escolha seria reflexo de seu discipulado aos
pés de Elias. Certamente, se Eliseu não tivesse sido previamente bem orientado
e doutrinado por Elias ele não teria sido tão espiritual em seu pedido. Isto me
faz lembrar de duas ocasiões em que o Senhor abriu oportunidades maravilhosas
para que se lhe fizessem pedidos; precisamos saber o que queremos e querer com entendimento, como Salomão (1º Reis
3:5-14) e Bartimeu (Marcos 10:51).
Gostaria que você notasse no texto
acima que um dos atributos que o discípulo Eliseu admirava em seu mestre Elias,
era o seu zelo fervoroso e consumidor pela nação de Israel, Elias tinha um
cuidado “quase sacerdotal” por Israel, Eliseu diante da visão apoteótica da
ascensão de Elias ao céu num redemoinho exclamou: “...O Senhor sempre foi como
um exército para defender Israel!” (NTLH). Eliseu estava disposto a assumir o
papel de defensor do povo de Deus secundariamente à sua missão de defensor dos
interesses de Deus, e nisso.
Por fim, note também que o primeiro
clamor de Eliseu ao contemplar a partida sobrenatural de Elias foi: “...Meu
pai, meu pai...”. Este foi o nível de relacionamento entre Eliseu e Elias.
Eliseu abriu mão da herança material de pai biológico (1º Reis 19:20-21) para
receber a herança ministerial de seu pai espiritual (2º Reis 2:9-10).
Eis aqui sete chaves espirituais
para recebermos a herança de um poderoso ministério:
1- Esteja
disposto a renunciar sua estabilidade social e financeira priorizando os
valores espirituais. Eliseu poderia ter aderido a uma próspera e bem
sucedida carreira como fazendeiro lavrador, mas optou por labutar como servidor
do profeta para herdar o ofício profético. Havia nele um nobre sentimento de
renúncia característico da mente de Cristo. Alguém que não esteja disposto a
priorizar o Reino de Deus (Mateus 6:33) não está apto a receber uma herança
ministerial que exija dedicação e extrema responsabilidade espiritual. Um
espírito despojado e renunciador é a marca de um promissor “filho espiritual”.
2- Esmere-se
e seja diligente em servir aquele pai espiritual cujo “manto” você almeja.
Eliseu investiu sua vida no mentorado de Elias. Ele “sugava” cada momento que
passava ao lado do profeta servindo-o e aprendendo, sua primeira reputação foi
de aquele “...que deitava água sobre as mãos de Elias.” (2º Reis 3:11). Na
verdade, este é um princípio fundamental do Reino de Deus: “Jesus sentou-se,
chamou os doze e lhes disse: - Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em
último lugar e servir a todos.” (Marcos 9:35 – NTLH). O próprio Jesus sendo
Deus assumiu tem um caráter servidor. “bem como o Filho do Homem não veio para
ser servido, mas para servir...” (Mateus 20:28).
3- Rejeite
qualquer comentário malicioso de terceiros a respeito de seu pai espiritual.
Os três principais canais de comunicação do homem são: (1) visão; (2) fala e
(3) audição. São também fortes agentes do pecado; podemos ser concupiscentes no
olhar e maledicentes no falar, mas você me perguntaria: “Como nossos ouvidos
podem ser agentes do pecado se o ouvir é passivo?” além da visão concupiscente
e do falar maledicente, o ouvir pode ser conivente, e isto é pecaminoso. Alguns
de nós “emprestamos” nossos ouvidos para os maledicentes e mexeriqueiros, nos
alimentando desse veneno espiritual. Deveríamos nos recusar a ouvir qualquer
tipo de comentário maledicente sobre homens que Deus ungiu (permaneçam ou não
ungidos), especialmente sobre aqueles que são nossa paternidade ou cobertura
espiritual. Eliseu não permitiu que os “observadores” fizessem menção do destino
de Elias, pois sabia que suas palavras possuíam um tênue tom de sarcasmo (2º
Reis 2:3). Quando ouvimos ataques verbais sobre um servo de Deus ou qualquer
outra pessoa e reagimos com palavras coniventes como: “é verdade!” ou até mesmo
“hãham!”, pecamos.
4- Esteja
o máximo que possível junto de seu pai espiritual, andando ao seu lado e
absorvendo sua sabedoria e seus atributos morais positivos. Pessoas são
produtos da influência de pessoas. O sábio Salomão escreveu: “Anda com os
sábios e serás sábio, mas o companheiro dos tolos será afligido.” (Provérbios
13:20). Eliseu andou ao lado de Elias, e antes de receber seu manto profético,
absorveu seu legado espiritual, seu caráter ilibado e sua sabedoria, da mesma
forma, se queremos “herdar” o ministério de um homem de Deus, devemos
acompanhá-lo bem de perto, lembrando que “a unção que respeitamos é a unção que
virá sobre nós”. Não anele apenas o poder e os dons de seu pai espiritual,
procure observar e imitar suas qualidades morais mais destacadas, pois
certamente foram estas que o projetaram para a grandeza espiritual.
5- Não
queira ser o “eco” de nenhum ministério, seja uma voz única e personalizada,
você pode ser tão poderoso em Deus quanto seu pai espiritual. Deus não está
interessado em levantar e ungir outro apóstolo Paulo, e muito menos outro Pedro
ou Moisés, Deus pode lhe dar da mesma unção que estava sobre estes homens, mas
unção de Deus repousa sobre indivíduos e não sobre “clones”. Eliseu desejava a
unção de Elias e não seus atributos pessoais e de temperamento, além disso, ele
não queria apenas a unção de Elias, mas uma porção dobrada dela, e por disso,
Eliseu operou em termos quantitativos mais milagres do que Elias.
6- Não
deseje a herança ministerial de alguém para exibi-la como um troféu, faça uso
dela para a glória de Deus. Eliseu não se ostentou com a capa de Elias
colocando-a imediatamente sobre si, mas se colocou diante do mesmo Jordão que
Elias abrira e fez o mesmo. Eliseu revelou com humildade a eficácia do poder de
Deus agora estava sobre si, assim, seu ministério tão frutífero quanto o de
Elias.
7- Não
queira se comparar a seu pai espiritual, mas não se incomode com as comparações
que surgirão inevitavelmente. É inevitável que as pessoas comparem nosso
ministério com o de nosso “pai espiritual” em diversos aspectos, na abordagem,
na motivação, na paixão, na visão... Afinal de contas estamos com o manto dele,
ou seja, a mesma unção que repousava sobre ele, agora repousa sobre nós. Os
“...filhos dos profetas que estavam defronte de Jericó, disseram: O espírito de
Elias repousa sobre Eliseu...” (2º Reis 2:15). A despeito de tais comparações,
Eliseu nunca se ostentou como o “novo Elias”, mas desenvolveu seu ministério na
direção do Espírito de Deus. As comparações sempre são muito perigosas, e
precisamos nos guardar delas, aliás, o único a quem devemos realmente imitar e
desejar ser comparados é com o Senhor (1ª Coríntios 11:1; Efésios 5:1).
O apóstolo Paulo deixou um
maravilhoso e amplo legado para o jovem pastor Timóteo, ao qual chamou em duas
ocasiões de filho na fé (1ª Timóteo 1:2; 2ª Timóteo 1:2). Paulo precisava
deixar um representante idôneo para presidir a Igreja em Éfeso, assim, escolheu
alguém idôneo, mas não tão idoso. O jovem Timóteo muito cedo absorveu os ensinos
de Paulo de forma a se tornar apto para o ministério pastoral entre os crentes
efésios. Paulo compreendia que as profecias acerca do ministério de Timóteo
constituíam em uma base sólida para o início de sua trajetória, e apostou nele.
“Este mandamento te dou, meu filho Timóteo, que, segundo as profecias que houve
acerca de ti, milites por elas boa milícia.” (1ª Timóteo 1:18). Note que Paulo
estava exortando seu “filho” Timóteo mais ou menos assim: “Sua chamada já está
confirmada, agora, haja à altura da promessa!”. Dentre as muitas recomendações
de Paulo ao jovem pastor, ele relacionou uma série de atributos imprescindíveis
para aqueles que desejam um “manto” no santo ministério da Igreja (1ª Timóteo
3:1-10). Paulo também motivou o jovem Timóteo acerca de sua suposta
inexperiência, pois sabia que em função de sua idade, muitos obreiros mais
velhos poderiam desprezá-lo ou recusar lhe estar sujeitos, ao que Paulo
escreve: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na
palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza. Persiste em ler,
exortar e ensinar, até que eu vá.” (1ª Timóteo 4:12-13). Perceba que Paulo
deixa claro que para que o ministério de Timóteo tivesse credibilidade e não
fosse desprezado, era-lhe necessário ser um exemplo para os fiéis em pelo menos
seis aspectos: (1) na maneira de falar;
(2) na maneira de agir; (3) no amor; (4) na motivação; (5) na fé
e (6) na pureza. Além disso, Paulo
exorta Timóteo na prática de outros três aspectos fundamentais do ministério:
leitura, exortação e ensino (v. 13). Paulo conclui esta parte dizendo que
Timóteo não desprezasse seu dom declarando: “...o qual te foi dado por
profecia, com a imposição das mãos do presbitério.” (v. 14).
Em fim, a paternidade espiritual é
um princípio real, patente em toda a narrativa bíblica, e deveria ser mais
diligentemente observada e ensinada por nós ministros de Deus.
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