Uma reflexão sócio-teológica sobre a experiência pentecostal nas camadas
pobres da sociedade.
A favela tornou-se um elemento
cultural em nossa nação. Turistas de países desenvolvidos têm buscado levar em
sua bagagem de volta as impressões e lembranças do país tropical estampadas em nossas
paisagens paradisíacas, que por vezes se misturam num paradoxo social às
moradias marginalizadas. Como na belíssima topografia da cidade maravilhosa com
o pão de açúcar e outras encostas estampadas pelos guetos e casebres escorados
precariamente.
Essa realidade brasileira que
parece sociologicamente irreversível tem de fato produzido uma mentalidade de
desprezo no inconsciente coletivo, ou seja, esses grupos marginalizados são
mentalmente programados a terem um auto conceito depreciativo, legando às
gerações futuras uma penosa desesperança. Até que por fim, alguns desses
desiludidos e rejeitados tem seu primeiro contato com a fé cristã pentecostal,
que lhes apresenta prioritariamente o Cristo que na essência da palavra é
Redentor. Sim, em Jesus Cristo, o maior ícone histórico de zelo pelos pobres e
necessitados, é encontrada a esperança que transcende a fenomenologia
antropológica e abre caminho para a experiência mística.
O protestantismo como uma das
forças históricas do capitalismo segundo o sociólogo Max Weber, resgatou o conceito
do Deus provedor material que fora omitido pelos votos de pobreza do
monasticismo católico. Agora, a partir da reforma protestante, cada classe
marginalizada vê em Deus, além do aspecto soteriológico (a salvação da alma) a
esperança de prosperidade terrenal acesa.
Porém, assim como há uma teologia
da prosperidade, há uma teologia do contentamento. Como pastor evangélico, já
tive a maravilhosa e enriquecedora experiência de pastorear uma igreja dentro
da favela, e pude diagnosticar a condição psíquica das pessoas, e o que percebi
é que uma boa parte deles sente-se perfeitamente realizada com seu status quo e
nem planejam mudar. Na favela, ao contrário do que eu pensava, tem famílias
estruturadas, padrões de moral e éticas íntegros e muita alegria, em paradoxo,
é claro, com os desajustes sociais que estão presentes hoje em todas as
esferas.
As pequenas comunidades eclesiais
carismáticas estão espalhadas pelos morros, favelas e guetos, como a nova e
revigorante fonte de esperança. Mesmo quando essas classes não alcançam a
esperada prosperidade financeira no tempo desejado, desenvolvem uma espiritualidade
mística que alimenta neles a ideia de que apesar de não terem acesso a
presidentes, governadores e prefeitos, eles têm simplesmente acesso a Deus pela
obra redentora de Cristo e pela experiência metafísica do próprio Espírito de
Deus os habitando e neles e através deles se movendo. Aliás, eles encontram na
experiência pentecostal o senso de significado e reconhecimento. Eles não têm
expressão social, mas possuem influência espiritual sobre outras pessoas,
conduzindo-as à mesma experiência divina que experimentaram.
Essa “descoberta” de Deus, não
omite o fato de que morar na favela possui um “q” de depreciativo social, mas
dilui a desesperança e a crise de auto estima, fazendo da mais precárias das
geografias sociais um pedaço do Éden. É uma questão de mentalidade subjetiva
mais que de realidade objetiva. Não se trata de PNL (programação neolinguística),
mas o novo auto conceito dos crentes pentecostais produzem uma nova
verbalização de esperança e autoridade.
Essa mesma esperança tem sido
encontrada pelas esferas mais elitizadas e intelectualizadas da sociedade, que após
se embrenharem em buscas existências infrutíferas, descobrem na pessoa do
Cristo histórico e da fé, o preenchimento de seu vazio existencial, vazio este
que cedo ou tarde assola qualquer individuo dessa diversificada sociedade pós
moderna.
Assim, seja no menor casebre da
favela ou na mais luxuosa mansão do bairro nobre, a experiência da fé
pentecostal tem produzido esperança transformadora aos indivíduos.
Ob.: Esse
texto foi elaborado por mim para complementar a abordagem de uma professora da
rede pública de ensino (que me solicitou), que está escrevendo um livro de
cunho sociológico antropológico sobre o sentimento e a vida de quem mora na
favela.
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