Confesso que por vezes me sentia espiritualmente
diminuído pelo fato de apreciar com admiração o zelo incansável de grandes “profetas
sociais”. Olhava para minha própria realidade ministerial e abordagem
discursiva com profundo senso de insatisfação, pois via em mim uma espécie de
omissão social como ministro do evangelho. Tal sentimento me causou confusão
interior e problemas de autoestima.
É realmente maravilhoso observar o
ativismo inflamado de homens como Martin Luther King Jr., que com seu
incansável senso de justiça, pregou a liberdade defendendo os direitos civis da
população afro-americana, e isso, imbuído de uma clarividência profética
indiscutível. King, na historicidade de sua formação acadêmica, familiar e
religiosa, desenvolveu uma clara teologia social, e consequentemente, uma espiritualidade
social. São “sociólogos” por excelência, pois diagnosticam e prognosticam os
movimentos e demandas sociológicas com precisão divina inspirada.
Por fim compreendi a diversidade
motivacional de cada indivíduo em sua espiritualidade. Embora a igreja deva
transcender o “kerigma” (pregação) para praticar a “diakonia” (serviço),
algumas comunidades eclesiais (igrejas locais) nasceram e cresceram com
dinâmicas espirituais essencialmente carismáticas, primando pelo metafísico e o
transcendente. Bem como alguns ministros desenvolverão uma teologia
crucialmente mística, dando ênfase a conduzir indivíduos de forma experiencial e
contemplativa.
Sou um cristão de confissão
teológica e experiência pentecostal, percebi que por ter desenvolvido minha
espiritualidade a partir da devoção particular e da disciplina espiritual, meu
ministério ao próximo e abordagem querigmática atuam na promoção do entusiasmo
da fé e da relação mística com as Escrituras. Aliás, o próprio termo “mística”,
cujo teor foi usurpado e distorcido por seguimentos espiritualistas esotéricos
e ocultistas, tem sua origem na teologia cristã. Mística, originalmente
falando, trata-se do aspecto imaterial e subjetivo da experiência cristã, ou
seja, o relacionamento real com Deus a partir da complexidade existencial do
homem interior.
Enquanto o próprio Espírito de Deus
inspira alguns indivíduos à atuarem como vozes proféticas no âmbito social, a
outros, Ele inspira a promoverem a espiritualidade carismática com ênfase nas
manifestações supranaturais e no desenvolvimento espiritual a partir da
comunhão profunda com a Divindade.
Hoje estou em paz. Embora empreenda alguns
esforços de natureza sociológica, não sou um profeta social. Tenho sido um
canal divino de renovação espiritual. Sou um “místico”. Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário