A atual configuração da Igreja moderna prima pela busca do sucesso,
auto-satisfação e principalmente da alegria. Parece haver um tipo de construção
artificial de uma atmosfera de “alegria”, que haja de forma terapêutica na alma
aflita e ansiosa do homem moderno. Assim, muitas igrejas têm promovido seus
cultos como mera forma de entretenimento, buscando satisfazer o ego humano a
qualquer custo. Algo está tragicamente errado com este modelo! Existem pelo
menos três perigos dessa falsa alegria na Igreja:
(1) A confusão entre alegria cultural e alegria espiritual.
Muitas igrejas possuem em sua liturgia uma natureza entusiasta (em
especial os pentecostais), ou seja, elas são naturalmente vivas em sua forma de
expressar seu culto a Deus, e isso acaba por influenciar inconscientemente essa
forma de expressão de outros. Mas a questão é: Será que todos batem palmas,
glorificam, dançam, e pulam, porque estão realmente repletos da Alegria do
Senhor? Ou será que o aspecto cultural dessa igreja, produz nas pessoas um desejo
de contextualização ou uma reação emocional previsível?
(2) A superficialidade dessa alegria temporal.
Essa falsa alegria religiosa é também uma produção artificial de
entusiasmo, um falso fogo para suprir a ausência do fogo verdadeiro. Na
realidade mais clara, essa “alegria” tem um caráter temporal, ou seja, ela dura
enquanto durar o bem estar externo, é uma alegria que está na superfície de
nosso ser, assim, é facilmente influenciada ou perdida pela realidade de fora:
tempo, espaço e circunstância. Não é a Alegria do Espírito e da Eternidade, é
mental e temporal.
(3) O engano que não nos prepara para o mal.
Por ser um substituto maligno da verdadeira alegria, essa falsa alegria
parece nos preencher, mas quando surge aquele vazio existencial comum a todo
ser humano, haverá um sentimento avassalador de tristeza que conduz a
depressão. Essa é a razão porque pessoas que tem tudo o que diz respeito à
bens, e até a fraternidade familiar, e situações ótimas ao seu redor, se
desapegam de suas vidas a ponto de tirá-las, pois quando vem este mal nos
afligir, ele só terá vitória em nós se a nossa alegria for falsa. Essa alegria
só existe quando tudo vai bem, e quando essa alegria se esvai, logo a pessoa
abandona a Deus.
A verdadeira alegria provém da tristeza. Se essa declaração lhe parece
paradoxal ou pessimista, tenho outra para você: A melhor tristeza é a que
provêm de DEUS, pois promove real alegria. Sim, existe uma tristeza que é
“enviada” por Deus à nossa alma.
Davi, o homem segundo o coração de Deus, após ter cometido um adultério e
um homicídio (II Sm 11:1-27), passou quase um ano sem confessar o seu pecado,
isso lhe custou muito. Podemos crer que mesmo estando destruído por dentro,
Davi encontrou formas superficiais de alegria, nos vinhos, danças e entretenimento
do palácio real, mas somente ele sabia que sua alma estava em frangalhos (Sl
51:8). O Espírito de Deus que não queria perder Davi o tratou com a “terapia
divina da angústia”. Então, como Davi parecia não responder à sua própria dor,
Deus o confronta com seu recurso mais agudo: um Profeta (II Sm 12:1-15). Agora,
entendendo-se “nu” diante Deus, Davi expressa uma das orações mais quebrantadas
da Bíblia, o Salmo 51, e lá nos versos 11 e 12, ele reconhece pelo menos três
coisas: (1) Sua indignidade de estar na presença de Deus naquele estado
impenitente; (2) Que o Espírito Santo estava triste com ele a ponto de quase
abandoná-lo; e (3) Ele precisava urgentemente restituir a verdadeira alegria em
seu interior; que alegria é esta?
“Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito
Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação...”
Salmo 51:11-12
Perceba que esse
refrigério espiritual somente é possível mediante o genuíno arrependimento;
enquanto as religiões oferecem uma ideologia de cunho cultural, a fé cristã é a
única que nos constrange ao arrependimento, pois revela nossa triste condição:
somos pecadores (Romanos 3:23). Este refrigério é o avivamento da verdadeira
alegria, e assim expressa o apóstolo Pedro em seu sermão: “Arrependei-vos,
pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham,
assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor.” (Atos 3:19).
Com tudo isto, talvez você
ainda não creia que Deus possa promover tristeza em nós. Vejamos então: “Porque
a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém
se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” (II Coríntios 7:10). Note
que, assim como há uma alegria mundana, há uma tristeza mundana. Essa tristeza
segundo o mundo é uma assolação da auto-estima, da razão da vida e existência,
uma tristeza que culmina com depressão e morte. Mas a tristeza segundo Deus é a
que promove arrependimento e salvação.
Jesus disse que a nossa
alegria não pode residir sequer no fato de sermos usados por Ele, o possuirmos
seus dons e autoridade, mas sim, no fato de termos nossos nomes escritos no céu
(Lucas 10:19-20), a alegria da Salvação
Que tipo de alegria você tem sentido, e que tipo de tristeza você tem
sentido?
Se quisermos a verdadeira alegria do Senhor, este gozo indizível e
incondicional, precisamos sentir a dor e a angústia pelos nossos pecados. Tiago
nos exorta:
“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos pecadores; e,
vós, de duplo ânimo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai,
e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.”
(Tiago 4:8-9)
A Igreja precisa passar
pela correção divina para compreender essa necessidade de avivamento, e essa
correção é dolorosa, pois ao contrário do que dizem os adeptos da mera
“teologia do amor”, Deus é sim, um Deus que castiga seus filhos para o bem
(Hebreus 12:6-11).
Diante dessa verdade
escriturística, quero confrontar respeitosamente os meus santos colegas de
ministério, sejam pastores, pregadores, missionários (as) cantores, ministros
em geral, para esta realidade. Pare de tentar forjar alegria emocional ou criar
falso entusiasmo, saia um pouco do facebook e do twitter e corra para sua igreja
ou para o seu quarto (Mateus 6:6), e chore, chore copiosamente pela farsa de
seu ministério, que mascara suas própria práticas reprováveis e profanas. Foi
Deus quem te escolheu homem e mulher de Deus, mas essa escolha, ao contrário de
seus dons e vocação (Romanos 11:29), pode ser rejeitada no dia derradeiro
(Mateus 7:21-23). É assim que Deus conclama seus ungidos hoje:
“Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o
vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso
coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus; porque
ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em
beneficência e se arrepende do mal... Chorem os sacerdotes, ministros do
Senhor, entre o alpendre e o altar...”
Joel 2:12-13,17
Não há dúvidas, o
verdadeiro avivamento espiritual que a Igreja carece, não é marcado por um
estado prévio de alegria, mas de tristeza; e quando essa Terapia Divina da
Angustia for aceita por nós, então haverá um transbordar de alegria e gozo
divino como jamais antes. A alegria do Senhor é a nossa força (Neemias 8:10),
mas a tristeza do Senhor é o nosso caminho para essa alegria. Glória a Deus.
Deus em Cristo te abençoe.
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