segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

CONFISSÕES DE UM PASTOR EVANGELISTA


O início de meu ministério como pregador se deu como itinerante, ou seja, eu não tinha um púlpito fixo para pregar. Este tempo maravilhoso durou cinco anos, ministrando em grandes congressos, conferências e algumas cruzadas. Uma agenda frenética todo final de semana e algumas campanhas de meio de semana. Depois, em 2005, fui enviado pelo meu pastor para dirigir a minha primeira igreja. Mesmo como pastor local, ainda atuava intensamente como evangelista, mas agora, minha visão sobre o trabalho abnegado de um pastor estava aberta.

Penso que todo evangelista e pregador itinerante deveria ter uma experiência como pastor de igreja para compreender a mente pastoral e vivenciar o dia a dia do povo para quem prega. Assim, pregadores itinerantes evitariam muitas tolices.

Da mesma sorte, todo pastor de igreja poderia ter sua experiência itinerante para compreender as necessidades e demandas deste ofício.

Cada um destes trabalhos no Reino tem sua grandeza e importância, nenhum deles é, absolutamente, mais importante do que o outro.

Pastores deveriam entender que precisam de evangelistas periodicamente para revitalizar sua igreja e também “descansar um pouco” (se é que isso é possível) de sua árdua rotina de pregações semanais. Pastores devem abençoar evangelistas com boas ofertas por seu ministério diferenciado aos santos.

Por sua vez, evangelistas deveriam entender que precisam de pastores para os orientarem e corrigirem, e é claro, para lhes ministrar ofertas de amor. Evangelistas não devem extorquir igrejas cobrando por seu ministério (Mt 10:8), isto tem manchado a Igreja.

Hoje, perto de completar quinze anos de ministério da Palavra (em 2015), dos quais cinco foram somente como evangelista e os últimos dez como pastor de igreja, tenho buscado a sabedoria e o equilíbrio bíblico para o ministério. Muito embora eu saiba que tenho muito a aprender, aprendi com o Espírito Santo muitas coisas preciosas que têm elevado meu ministério a padrões de excelência e piedade.

Jamais deixei de ser um evangelista, ou de atender convites de outras igrejas e colegas de ministério, mas de forma esporádica, devido às atribuições pastorais. Confesso que por alguns meses, devido ao descomprometimento de alguns pastores com as necessidades de um evangelista, fechei pequenos valores de oferta para pregar, mas isto passou rapidamente a não me cair bem. Senti-me profundamente ferido em minha consciência, e persuadido pelo Espírito Santo a confiar somente na provisão divina.

Por conta de ter me tornado um pastor de igreja, percebi algo estarrecedor. Alguns pastores colegas que outrora me convidavam para seus eventos e congressos todos os anos, passaram a me ver como concorrente, não digo isto somente pelo fato de terem fechados suas portas ao meu ministério que os abençoou tremendamente com salvação, curas, profecias, e crescimento da igreja. Mas digo isto pela atitude de indiferença e muitas vezes de aversão de alguns. Este parece ser um problema não tratado em muitos pastores, a insegurança com relação à sua própria chamada. Eles acreditam que alguém pode agradar mais com sua pregação e “roubar” membros. Que tolice! O rebanho é de Jesus, e cada pastor tem as ovelhas designadas pelo Sumo Pastor Jesus. Mas é claro que isso não paralisa um ministério levantado por Deus, muitas outras portas se abriram e se abrirão.

Outro sentimento que me inquietava no início de meu ministério pastoral, era a diferença na manifestação dos dons quando eu pregava para a minha igreja local e quando saía como evangelista. Notei que fora da minha casa eu pregava seguido de muitos sinais de cura, libertação e profecias, já pregando na igreja que pastoreava, estes sinais também ocorriam, porém, numa escala bem menor do que fora. Então compreendi dois princípios bíblicos: (1) O Profeta em sua própria casa não tem honra (Mt 13:54-58), e (2) Os dons operam segundo a necessidade dos ministérios (I Co 12:7, 11). Este segundo me chamou mais atenção. Cada um dos cinco ministério (Ef 4:11) é especialmente dotado de alguns dos nove dons (I Co 12:8-10) espirituais. Como pastor e profeta ministrando em minha igreja, os dons predominantes em meu ministério sempre foram a palavra de sabedoria, a palavra de ciência, o discernimento de espíritos e a profecia. Já como evangelista os dons que predominam são os dons de cura e o dom da fé. Embora todos estes dons podem se manifestar de forma aleatória em qualquer um dos ministérios segundo a vontade de Deus.

Os dons de cura, por exemplo (a manifestação que mais me empolga), eu os ministro de uma maneira como pastor e de outra como evangelista (todo pastor deveria buscar e operar nos dons de cura). Como evangelista, gosto de após pregar, ministrar cura e dar oportunidade para que pessoas testemunhem que receberam. Normalmente, pregando fora de minha igreja, as pessoas me recebem como evangelista, e têm essa expectativa e fé neste tipo de manifestação. Além disso, a mensagem é curta e tenho mais tempo de ministrar assim. Já como pastor, também sempre ministro cura, porém, os testemunhos ocorrem durante a semana e em minha caixa de e-mail. Isso porque devo dar tempo suficiente e maior para a edificação da Igreja pelo ensino da Palavra. Ministro segundo a necessidade da mensagem inspirada e pregada, e também ministro cura “por atacado” como dizia o lendário Smith Wigglesworth, e as vezes com imposição de mãos. Tenho comprovado que a simples pregação da Palavra (o Evangelho do Reino) tem o poder de curar enquanto é ouvida (Sl 107:20; Lc 7:7).

Ao longo dos anos tive alguns conflitos interiores em relação à minha chamada e ministério, pois não entendia porque sendo eu um evangelista inflamado e apaixonado por este ministério, fui direcionado por Deus para estabelecer uma igreja. Por várias vezes planejei deixar a igreja com um sucessor e me dedicar somente ao ministério evangelístico. Hoje compreendo que o Senhor quer que eu concilie ambos, e eu recebi paz em meu espírito, pois amo o rebanho de minha igreja como nunca, e sei que não os deixarei. Ao mesmo tempo estou alegremente atuando como evangelista e abrindo cada dia mais a minha velha agenda itinerante.

Uma das revelações mais claras em meu espírito para me nortear e trazer esta paz foi a passagem bíblica de II Timóteo 4:5, em que o apóstolo Paulo dá uma orientação ao jovem pastor Timóteo, que era pastor sênior (bispo) das igrejas de Éfeso:

Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.

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