quinta-feira, 25 de julho de 2013

ESTÁGIOS DA RESTAURAÇÃO PLENA DO HOMEM



Com o estabelecimento do Reino de Deus no advento terreno de Cristo, o gênero foi redimido de seu estado de condenação e morte, bastando cada ser humano reconhecer este fato profético para participar desta Redenção. Porém, a partir do novo nascimento (João 3:3) a natureza humana, agora recriada, passa por estágios até sua restauração plena “até que cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.” (Efésios 4:13). Mesmo sendo um milagre, este milagre ainda se processa no homem gradualmente.

MORTIFICANDO A NATUREZA ADÂMICA

De fato, duas naturezas coexistem no homem nascido de novo, recriado à imagem e semelhança de Deus. Esta natureza adâmica é a própria natureza de Adão pós-Queda, caracterizada por uma corrupção generalizada, de corpo, mente e coração. Esta natureza é um “cadáver” que devemos carregar até o dia em deixemos este corpo mortal, “por isso, também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu” (II Coríntios 5:2). Note que esta habitação é o corpo glorificado que havemos de receber, que, hoje, está realmente no céu, porém descerá à nós, pois não seremos despidos num “rapto secreto”, mas revestidos pela Vinda gloriosa da Vida que está escondida com Cristo em Deus (Colossenses 3:3-4). Enquanto se aproxima esta gloriosa metamorfose, devemos numa atitude contínua e perseverante, mortificar esta velha e caída natureza (Colossenses 3:5). Essa coexistência do novo e do velho homem é expressa no clamor agoniado de Paulo: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24). Este clamor aponta para a tradição da lei romana, que punia homicidas fazendo-os carregar o cadáver de sua vítima amarrado ao seu corpo pelo resto da vida. O corpo se decompunha, fedia, e estava sempre junto a assassino, mas o assassino se gloriava de estar vivo. Paulo complementa declarando a natureza do conflito existencial humano ao dizer: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, a lei do pecado.” (Romanos 7:25). Paulo ratifica a esperança do homem recriado dizendo: “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” (Romanos 8:1-2). Mas precisamos fazer morre sempre os hábitos da velha natureza.

SUJEITANDO-SE À OPERAÇÃO DA CRUZ

A simbologia da cruz na linguagem profética do Reino aponta para duas obras coexistentes: uma Obra consumada, e uma obra progressiva. A mensagem da cruz fala do Rei e Senhor do Universo que se ofereceu em sacrifício para Redimir o gênero humano à sua condição de filhos do Reino. Fala do Rei que ao pagar a dívida da humanidade deixou claro que sua parte nesta Obra Redentora estava feita (João 19:30). É uma mensagem que vai além do intelectualismo e racionalismo humano (I Coríntios 1:17-18). O homem recriado e restaurado à imagem do Criador, não poderá mortificar a velha natureza adâmica, senão pelo sujeitar-se à operação da cruz. A obra da cruz foi consumada, a cruz não, pois, “já estou crucificado com Cristo, e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do filho de Deus...” (Gálatas 2:20). Note que Paulo não fala da cruz como uma experiência da sua conversão, mas como uma operação contínua em sua existência. Nesta linguagem profética, sabemos que não somente nós estamos crucificados para o mundo, mas também, todo o ideal do sistema (mundo) também está crucificado para nós, e este o único motivo que temos para nos gloriar (Gálatas 6:14). A obra definitiva da cruz em nós é a anulação do corpo do pecado, para que não mais o sirvamos (Romanos 6:6; Gálatas 5:24), e a obra gradual da cruz é o convite do Rei Jesus ao discipulado, que é dia após dia renunciando, tomando-a e seguindo ao Senhor como constantes alunos e embaixadores: “...Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lucas 9:23). A cruz não é uma árvore de natal onde estão os presentes da cristandade, mas é o altar onde prestamos onde oferecemos nossa vida em sacrifício vivo a Deus como culto racional (Romanos 12:1-2).
 
MINIMIZANDO A OPERAÇÃO DA ALMA

Entenda-se a Alma como a sede dos sentimentos, emoções, intelecto e vontade. Diferente do homem recriado à imagem do Último Adão, a alma era a essência imaterial da vida do primeiro Adão (Gênesis 2:7; I Coríntios 15:45). Considerando que a alma é, também, o canal de interação do homem com o mundo ao seu redor, captando informações e impressões deste mundo por meio dos sentidos do corpo, a mesma tende a ser inconstante em seu estado. Não podemos, porém, anular a alma nesta existência física, mas podemos “reconfigurá-la” e minimizar sua operação, não sendo predominantemente guiados por nossos sentimentos, emoções, intelecto e desejos. A alma do homem deve atuar em harmonia com o espírito recriado, para que o corpo opere em harmonia com a vontade de Deus. Assim, a maneira de reconfigurar a alma é através de uma absorção correta, selecionando os pensamentos (Filipenses 4:8; Colossenses 3:2), Selecionando os desejos (II Timóteo 2:22), selecionando os sentimentos (Filipenses 2:5), e selecionando as emoções (Mateus 5:44; Efésios 4:31-32). Para tanto, precisamos policiar os canais de nossa absorção: os olhos (Salmos 101:3; Jó 31:1), os ouvidos (Apocalipse 13:9) e a boca (Efésios 4:29; Tiago 4:11). Sim, o homem pode transgredir através olhos concupiscentes, ouvidos coniventes, e boca maledicente. Lembremo-nos que “...a alma que pecar, essa morrerá.” (Ezequiel 18:4b). 

LIBERANDO O ESPÍRITO RECRIADO

Tendo nascido de novo, da água e do Espírito (João 3:3-5) se tornando uma nova criatura (II Coríntios 5:17; Gálatas 6:15), este homem recriado não é um corpo novo, como imaginou Nicodemus (João 3:4a), tão pouco uma nova alma; Segundo a profecia de Ezequiel é um novo espírito (Ezequiel 36:26). Não podemos estar confusos quanto a isto. Este espírito não o Espírito Santo de Deus, mas é o novo espírito concebido ao homem por obra do Espírito Santo, por ocasião de sua união com Cristo Jesus, pois, “...o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito” (I Coríntios 6:17). Este espírito recriado é justamente a reprodução da Pessoa e do caráter de Jesus no homem nascido de novo. Este espírito muitas vezes não opera em seu potencial e plenitude, pois damos mais vazão à operação da alma, e deixamos este poderoso espírito recriado, retido em nossa existência. Dentre outras coisas, para liberar este espírito recriado, precisamos: (1) Alimentá-lo com a Palavra de Deus (Salmo 119:11); Inclinando-nos para as coisas do Espírito de Deus (Romanos 8:5-9); Comunicando-nos com Deus por meio deste novo espírito (I Coríntios 14:2, 14); Frutificando este novo espírito pelo Espírito de Deus (Gálatas 5:22).

Conclusão

A Redenção efetuada por Cristo Jesus foi, de fato, completa, mas seus efeitos transcendem o tempo para o futuro e a consumação de todas as coisas. Assim, sabemos que esperamos o culminar desta Redenção (Romanos 8:23), pois temos o penhor divino desta promessa, o Espírito Santo (II Coríntios 1:22; 5:5; Efésios 1:13-14). Desde que o Rei Jesus veio a Terra e estabeleceu o Reino de Deus, dando início ao período libertador chamado “milênio”, até aos nossos dias, tem havido um processo de expansão deste Reino que terá seu clímax antes da Segunda Vinda do Senhor, quando o conhecimento da glória do Senhor encherá toda a Terra como as águas cobrem o mar (Habacuque 2:14), e todos os povos adorarão ao Senhor (Salmo 22:27-31), e como se não bastasse, a natureza, o ecossistema, a fauna, a flora, serão revigorados pela Redenção da Terra (II Crônicas 7:14), de tal modo que cessará a mortalidade infantil, e aumentará a expectativa de vida do homem (Isaías 65:20). Precisamos entender estes estágios da restauração do homem como indivíduo e como espécie. Cristo em nós, esperança da glória (Colossenses 1:27).

                                                                                    
                                                                                 Enéas Ribeiro