terça-feira, 26 de dezembro de 2017

PIEDADE E AUTO AFIRMAÇÃO (Por Enéas Ribeiro)


TEXTO ÁUREO

Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.
(Filipenses 2:3)

VERDADE APLICADA

A verdadeira piedade não combina com a autoafirmação. O altruísmo é a marca do verdadeiro cristão.

ESCRITURA BASE

E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Lucas 10:25-37).

INTRODUÇÃO

A característica essencial da verdadeira piedade é a humildade. É uma das nove qualidades do fruto do Espírito (Gl 5:22). É o maior legado espiritual deixado por Jesus Cristo aos seus seguidores (Mt 11:29).
Humildade não combina com autoafirmação. E neste século tão competitivo e egocêntrico, jamais o ser humano se auto afirmou com tanto ímpeto, seja em sua natureza (antropocentrismo), ou como indivíduo (egocentrismo).
A parábola do Bom samaritano traduz o coração e a vontade de Deus quanto a piedade altruísta. O altruísmo por definição é o antônimo do egoísmo. É a qualidade de se importar sinceramente com o próximo acima de si próprio.
Cristãos verdadeiramente piedosos são profundamente humildes, e nesta lição, trataremos da verdadeira natureza deste fruto do Espírito.

1.     A MOTIVAÇÃO ALTRUÍSTA

O que motiva nossas boas obras? Devemos responder essa pergunta para nós mesmos, pois sua resposta revelará nosso coração. O genuíno cristianismo implica no cuidado do próximo mesmo em detrimento de si mesmo, ou seja, para o cristão de verdade, nada diz respeito a si mesmo, mas sim ao bem estar do próximo.
A piedade é revelada por uma atitude sacrificial de amor. Conhecemos o amor nisto: que ele [Jesus] deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos.” (1 João 3:16).
Os relacionamentos só são sólidos e saudáveis quando há mútua renúncia e doação.
Esta piedade altruísta é o sustentáculo do casamento. Não se casa para ser feliz, se casa para fazer feliz. Em qualquer relacionamento piedoso, nosso anelo deve ser o de fazer as pessoas felizes sem esperar reciprocidade. No âmbito natural e no conceito deste mundo, parece injusto, mas a verdadeira justiça está nos princípios do Reino de Deus, e nossa real recompensa está Nele.
Esta piedade deve nortear todos os níveis de relacionamento: marido e mulher, pais e filhos, discípulos e mentores, patrões e empregados, amigos...
Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” (Filipenses 2:4).

2.     FAZENDO PARA A PESSOA CERTA

A piedade verdadeiramente altruísta, não somente faz pelo próximo como também, faz em primazia para a Pessoa certa: DEUS. A única maneira de não nos frustrarmos pela falta de reciprocidade do próximo é esperar somente em Deus, fazendo tudo Nele, por Ele e para Ele. “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (1 Coríntios 10:31).
Neste século marcado por um espírito tão patente de rebelião e insubordinação, a Palavra de Deus nos confronta à obediência às autoridades, como ao próprio Cristo: “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo.” (Efésios 6:5). Se trabalhamos somente por aumentos e promoções jamais experimentaremos a excelência. Se nossa dedicação está condicionada ao reconhecimento humano, jamais veremos a promoção e o favor de Deus. “Viste o homem diligente [dedicado] na sua obra [no seu trabalho]? Perante reis será posto; não permanecerá entre os de posição inferior.” (Provérbios 22:29).
Cristãos piedosos honram líderes e autoridade constituídas (Rm 13: 1-2; Cl 3:22; 1 Tm 6:1-2; Tt 2:9)
Os senhores também devem nutrir um sentimento de serviço aos seus servos (Ef 6:9; Cl 4:1).
A questão do piedoso altruísmo cristão não somente o que fazemos, mas para quem fazemos. E Deus deve ser o alvo de nossa devoção, trabalho e dedicação em tudo.

3.     QUATRO ORIGENS DA INIQUIDADE

Parece paradoxal declarar que o mal nasceu no ambiente do bem. Mas na verdade, aquilo que conhecemos como Pecado, não teve sua origem na Terra, mas sim, no Céu. Foi no coração de um Querubim (anjo) de alta patente celestial que brotou o primeiro pecado: ORGULHO. E Palavra de Deus numa alegoria profética do profeta Ezequiel, nos revela as quatro origens da Iniquidade em Lúcifer (Ez 28:11-17).
O interessante é que as coisas que geram o pecado não são pecado, e são: (1) Sabedoria; (2) Beleza; (3) Posição; e (4) riqueza.
(1)  SABEDORIA. ...Tu és o aferidor de medida, cheio de sabedoria...” (v. 12b)
Sabedoria; esta maravilhosa dádiva de Deus, que deveria ser uma coroa de honra para benefício do próximo, muitas vezes se torna, no coração de alguns, a raiz da iniquidade. Mesmo Salomão se viu envaidecido e embriagado por tudo o que a sabedoria o fez alcançar. Existem dois tipos de sabedoria, a sabedoria de Deus que é dada, e sabedoria da natural que é adquirida, e esta última é a que pode corromper. Lúcifer possuía a sabedoria divina, porém se estribou na própria sabedoria (Pv 3:5).

(2) BELEZA. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor...” (v. 17a)
Apesar do conceito grego hedônico de beleza, cada grupo étnico possui um padrão de beleza peculiar. A beleza não é pecado, mas o moderno culto à estética e ao “belo” tem desviado cada vez mais a nossa sociedade da piedade. Essa atitude narcisista está presente em todos os seguimentos sociais, até mesmo no religioso (Pv 7:10; 1 Tm 2:9). É interessante ressaltar que ao encarnar, o Cristo não primou por este padrão grego de estética, frustrando o messianismo como objeto de desejo, pois, “não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.” (Isaías 53:2).
Lúcifer possuía tal beleza, e a mesma o corrompeu.

(3) POSIÇÃO. Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo estavas...” (v. 14)
As guerras e conflitos da atualidade e a desleal competitividade profissional tem um alvo comum: POSIÇÃO. O ser humano seduzido por sua própria vaidade busca se promover em detrimento da integridade alheia, e isto no âmbito profissional, acadêmico, artístico, desportivo, e até religioso.
Como supremo modelo da piedade altruísta, Nosso Senhor Jesus abdicou de sua posição soberana para se dedicar ao serviço em favor do próximo. Desceu posições até o mais baixo possível: Da glória celeste ao ventre de Maria, e daí à condição de filho subordinado ao homem, depois a funcionário de carpintaria, ao serviço de doze homens e das multidões, a réu no sinédrio, condenado de cruz, ao sepulcro, e às partes mais baixas da terra.
Este sentimento de Cristo deve permear o nosso coração. “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:5-8).
Lúcifer sucumbiu às riquezas que possuía.

(4) RIQUEZA. ...toda pedra preciosa era a tua cobertura...” (v. 13)
O dinheiro, o vil metal. Cujo amor é declarado pela Palavra de Deus como a raíz de toda espécie de males (1 Tm 6:10). Assim como sabedoria, beleza e posição, não é pecado possuir dinheiro, ao contrário, neste plano material, ele responde por tudo (Ec 10:19b). Mas no mesmo livro Salomão declara: “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda...” O dinheiro é o ídolo que tenta fazer frente ao Deus verdadeiro (Lc 16:13) (Eclesiastes 5:10). O dinheiro foi a perdição do apostolo Judas, tesoureiro do ministério de Jesus (Jo 12:6).
Muitos casamentos falem pela busca de mais dinheiro. Muitas famílias se destroem pela busca de mais dinheiro, muitas empresas quebram pela busca de mais dinheiro.
A busca pelo dinheiro não pode nos privar daquilo que é o melhor da vida: a família, os filhos, a contemplação. (Ec 2:24; 9:9).
As incontáveis riquezas que Lúcifer possuía corromperam seu coração.

4.     LIBERTOS DA VANGLÓRIA E DA AUTOPROMOÇÃO

Sim, o homem como nunca antes está de vangloriando e se auto promovendo. Você já teve a deprimente e constrangedora experiência de conversar com alguém que somente conta vantagem, que laureia seus próprios méritos e realizações? Nada pode ser tão pequeno. O homem piedoso e altruísta está sempre preocupado em celebrar as qualidades e conquistas alheias. “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” (Filipenses 2:3). Este cristão também não inveja e não se deixa levar por vanglórias de outrem para também se vangloriar. “Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.” (Gálatas 5:26).
Em nosso século midiático e refém das redes sociais as pessoas encontraram sua tão sonhada plataforma de autopromoção. Cada tolo pensamento “tem que ser publicado”. Publicidade é a palavra de ordem. Claro que não podemos negar que se constitui uma ferramenta extraordinária de evangelização e edificação; afinal, imagine o apóstolo Paulo de posse de instagram, facebook e whatsapp!
Há tantas coisas que não edificam, e o nosso compromisso cristão deve ser com a edificação, e não com tolices e futilidades.  “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.” (Efésios 4:29). Ler também Efésios 5:3-4.
O piedoso e altruísta não exagera a publicidade em si, mas em sua fé. Em 1904, no maior reavivamento nacional da era moderna, no País de Gales, o maior nome do mover foi o jovem Evan Roberts de 23 anos, que se negava a estar em fotografias e entrevistas, temendo usurpar a glória de Deus como autor do avivamento. Em nossa era isso seria muito extremo, mas poderíamos, no mínimo ser menos personalistas e performáticos na publicidade. Nosso modelo como sempre é Jesus. “Mas Jesus, ... afastou-se dali. Muitos o seguiram, e a todos ele curou. Advertindo-lhes, porém, que o não expusessem à publicidade.” (Mateus 12:15-16 - VRA).
Os próprios irmãos de Jesus o instigavam para se tornar mais emblemático nas “redes sociais”, e ele não repudiou de todo a ideia, mas disse: “Ainda não é chegado o meu tempo” (Mateus 7:3-6). Não se promova porque todos o fazem, promova quando você estiver cheio da coisa certa, e no tempo certo para não ser mais um.

CONCLUSÃO

Eis a razão de nossa geração ser tão profana e irreligiosa. Os valores de Deus foram substituídos por valores humanistas. O livre curso da iniquidade esfriou a caridade no coração humano (Mt 24:12). O homem agora se ostenta e usurpa a posição de “centro do Universo”.
Mas nós, a Igreja, precisamos nos voltar para a Palavra de Deus e para o supremo modelo de Cristo Jesus.
Nosso “EU” deve ser definitivamente crucificado para que vivamos plenamente a Vida de Cristo, em todo o seu poder, virtude e influência. Somente a Igreja, como comunidade altruísta, tem o poder de transformar esta sociedade ególatra, egocêntrica e egoísta. Vamos renovar nossas mentes e nos transformar para transformar nossos contextos.
Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” (Mateus 16:24).

QUESTIONÁRIO

1.     DEFINA ALTRUÍSMO.
2.     EM QUE IMPLICA O VERDADEIRO CRISTIANISMO?
3.     COMO JESUS SE POSICIONOU EM RELAÇÃO À SUA PUBLICIDADE?
4.     CITE AS QUATRO ORIGENS DA INIQUIDADE.
5.     PARA QUEM DEVEMOS FAZER E NOS APRESENTAR? JUSTIFIQUE.

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