sábado, 15 de agosto de 2015

A FÉ PENTECOSTAL NA FAVELA

Uma reflexão sócio-teológica sobre a experiência pentecostal nas camadas pobres da sociedade.

A favela tornou-se um elemento cultural em nossa nação. Turistas de países desenvolvidos têm buscado levar em sua bagagem de volta as impressões e lembranças do país tropical estampadas em nossas paisagens paradisíacas, que por vezes se misturam num paradoxo social às moradias marginalizadas. Como na belíssima topografia da cidade maravilhosa com o pão de açúcar e outras encostas estampadas pelos guetos e casebres escorados precariamente.
Essa realidade brasileira que parece sociologicamente irreversível tem de fato produzido uma mentalidade de desprezo no inconsciente coletivo, ou seja, esses grupos marginalizados são mentalmente programados a terem um auto conceito depreciativo, legando às gerações futuras uma penosa desesperança. Até que por fim, alguns desses desiludidos e rejeitados tem seu primeiro contato com a fé cristã pentecostal, que lhes apresenta prioritariamente o Cristo que na essência da palavra é Redentor. Sim, em Jesus Cristo, o maior ícone histórico de zelo pelos pobres e necessitados, é encontrada a esperança que transcende a fenomenologia antropológica e abre caminho para a experiência mística.
O protestantismo como uma das forças históricas do capitalismo segundo o sociólogo Max Weber, resgatou o conceito do Deus provedor material que fora omitido pelos votos de pobreza do monasticismo católico. Agora, a partir da reforma protestante, cada classe marginalizada vê em Deus, além do aspecto soteriológico (a salvação da alma) a esperança de prosperidade terrenal acesa.
Porém, assim como há uma teologia da prosperidade, há uma teologia do contentamento. Como pastor evangélico, já tive a maravilhosa e enriquecedora experiência de pastorear uma igreja dentro da favela, e pude diagnosticar a condição psíquica das pessoas, e o que percebi é que uma boa parte deles sente-se perfeitamente realizada com seu status quo e nem planejam mudar. Na favela, ao contrário do que eu pensava, tem famílias estruturadas, padrões de moral e éticas íntegros e muita alegria, em paradoxo, é claro, com os desajustes sociais que estão presentes hoje em todas as esferas.
As pequenas comunidades eclesiais carismáticas estão espalhadas pelos morros, favelas e guetos, como a nova e revigorante fonte de esperança. Mesmo quando essas classes não alcançam a esperada prosperidade financeira no tempo desejado, desenvolvem uma espiritualidade mística que alimenta neles a ideia de que apesar de não terem acesso a presidentes, governadores e prefeitos, eles têm simplesmente acesso a Deus pela obra redentora de Cristo e pela experiência metafísica do próprio Espírito de Deus os habitando e neles e através deles se movendo. Aliás, eles encontram na experiência pentecostal o senso de significado e reconhecimento. Eles não têm expressão social, mas possuem influência espiritual sobre outras pessoas, conduzindo-as à mesma experiência divina que experimentaram.
Essa “descoberta” de Deus, não omite o fato de que morar na favela possui um “q” de depreciativo social, mas dilui a desesperança e a crise de auto estima, fazendo da mais precárias das geografias sociais um pedaço do Éden. É uma questão de mentalidade subjetiva mais que de realidade objetiva. Não se trata de PNL (programação neolinguística), mas o novo auto conceito dos crentes pentecostais produzem uma nova verbalização de esperança e autoridade.
Essa mesma esperança tem sido encontrada pelas esferas mais elitizadas e intelectualizadas da sociedade, que após se embrenharem em buscas existências infrutíferas, descobrem na pessoa do Cristo histórico e da fé, o preenchimento de seu vazio existencial, vazio este que cedo ou tarde assola qualquer individuo dessa diversificada sociedade pós moderna.
Assim, seja no menor casebre da favela ou na mais luxuosa mansão do bairro nobre, a experiência da fé pentecostal tem produzido esperança transformadora aos indivíduos.

Ob.: Esse texto foi elaborado por mim para complementar a abordagem de uma professora da rede pública de ensino (que me solicitou), que está escrevendo um livro de cunho sociológico antropológico sobre o sentimento e a vida de quem mora na favela.

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