terça-feira, 18 de agosto de 2015

SOCIÓLOGO OU MÍSTICO


Confesso que por vezes me sentia espiritualmente diminuído pelo fato de apreciar com admiração o zelo incansável de grandes “profetas sociais”. Olhava para minha própria realidade ministerial e abordagem discursiva com profundo senso de insatisfação, pois via em mim uma espécie de omissão social como ministro do evangelho. Tal sentimento me causou confusão interior e problemas de autoestima.

É realmente maravilhoso observar o ativismo inflamado de homens como Martin Luther King Jr., que com seu incansável senso de justiça, pregou a liberdade defendendo os direitos civis da população afro-americana, e isso, imbuído de uma clarividência profética indiscutível. King, na historicidade de sua formação acadêmica, familiar e religiosa, desenvolveu uma clara teologia social, e consequentemente, uma espiritualidade social. São “sociólogos” por excelência, pois diagnosticam e prognosticam os movimentos e demandas sociológicas com precisão divina inspirada.

Por fim compreendi a diversidade motivacional de cada indivíduo em sua espiritualidade. Embora a igreja deva transcender o “kerigma” (pregação) para praticar a “diakonia” (serviço), algumas comunidades eclesiais (igrejas locais) nasceram e cresceram com dinâmicas espirituais essencialmente carismáticas, primando pelo metafísico e o transcendente. Bem como alguns ministros desenvolverão uma teologia crucialmente mística, dando ênfase a conduzir indivíduos de forma experiencial e contemplativa.

Sou um cristão de confissão teológica e experiência pentecostal, percebi que por ter desenvolvido minha espiritualidade a partir da devoção particular e da disciplina espiritual, meu ministério ao próximo e abordagem querigmática atuam na promoção do entusiasmo da fé e da relação mística com as Escrituras. Aliás, o próprio termo “mística”, cujo teor foi usurpado e distorcido por seguimentos espiritualistas esotéricos e ocultistas, tem sua origem na teologia cristã. Mística, originalmente falando, trata-se do aspecto imaterial e subjetivo da experiência cristã, ou seja, o relacionamento real com Deus a partir da complexidade existencial do homem interior.

Enquanto o próprio Espírito de Deus inspira alguns indivíduos à atuarem como vozes proféticas no âmbito social, a outros, Ele inspira a promoverem a espiritualidade carismática com ênfase nas manifestações supranaturais e no desenvolvimento espiritual a partir da comunhão profunda com a Divindade.

Hoje estou em paz. Embora empreenda alguns esforços de natureza sociológica, não sou um profeta social. Tenho sido um canal divino de renovação espiritual. Sou um “místico”. Amém!

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